Já falamos da psicologia do social na postagem anterior, Psicologia do Trabalho e suas origens – 4a Parte, agora vamos falar conceituar o nosso objeto de estudo, o trabalho humano e a relação do homem com o mesmo, e como isso pode ser avaliado e entendido numa perspectiva psicológica.
O que é o trabalho humano?
Nessa nossa breve análise do trabalho não vamos pensá-lo como uma atividade qualquer, iremos imaginar que ele é uma categoria fundamental da existência humana, onde o ser humano emprega sua força para produzir seus meios de sobrevivência. Através desse investimento pessoal, o sujeito com seu esforço vai transformar o mundo à sua volta, e satisfazer suas necessidades. Usando sua inteligência, ele se apropria da matéria e a transforma, usando as propriedades mecânicas, físicas e químicas das coisas como ferramenta, atuando sobre os materiais para modificarmos de acordo nosso propósito.
O ato de trabalhar atravessa as gerações e é por intermédio do ensino dos processos produtivos que cada geração transmite seus saberes para a seguinte. Assim sendo o trabalho e a educação são fundamentais para a manutenção da nossa espécie, e podemos dizer inclusive que os dois são atividades especificamente humanas, ou seja, apenas o ser humano trabalha e educa. As formas como acontecem vão variando conforme as necessidades de cada época e de acordo com o tipo de intervenção na natureza, mas é um movimento permanente que condiciona a história da humanidade.
Origens da palavra: trabalho.
Quando pesquisamos a etimologia da palavra trabalho encontramos uma raiz que significa enterrar no solo, afundar (século XII) e dela uma derivação que é a palavra “palus” que significa pau. Daí a origem famosa do associação do trabalho como “tripallium”, uma ferramenta de três pernas que imobilizava cavalos e bois para serem ferrados, e também um instrumento de tortura usado contra escravos e presos, que originou o verbo tripaliare cujo significado inicial era torturar.
Olha como essa idéia de trabalho como castigo está presente no imaginário popular. Se buscarmos na Bíblia a sentença para Adão quando ele comete o pecado e desobedece a proibição divina, sua sentença foi a expulsão do Paraíso, juntamente com Eva. Ele foi condenado a trabalhar, ou seja, seu castigo é ganhar a vida com o suor do seu rosto. Aqui nesse texto histórico trabalhar assume o sentido de condenação, por isso para muitos trabalhar é sofrer diariamente uma tortura. A outra acepção da palavra, dispositivo para imobilizar grandes animais, uma espécie de canga, também pode ser usada como metáfora de trabalho, também um sentido negativo.
Mais à frente, por volta do século XV no Resnascimento, o sentido passa a mudar para aplicação das forças e faculdades (talentos, habilidades) humanas para alcançar um determinado fim. O trabalho não é mais apenas uma ocupação servil, ele também propicia o desenvolvimento, preenche a vida, passa a ser uma condição necessária para a liberdade.
Aqui surge uma outra palavra que permite pensar o trabalho nesse sentido positivo, de construção da pessoa, que é a palavra “labor”, que está ligada, na sua origem latina às atividades agrícolas, à lavra, ao laborar no campo. Agora o trabalhar passa a significar cultivar, e cultivar nos remete também à palavra cultura. Fazer cultura é um processo de enriquecimento e transformação do ser humano.
Olha como é curioso: pode ser um sofrimento, tortura, imposição, massacre, por exemplo, se tomarmos como base a formação cristã, ou também pode ter um sentido altamente positivo, de uma atividade ligada ao crescimento, lavra, laborar, algo gratificante, numa interpretação humanista do trabalho como gerador de uma ato de criação.
Temos esses dois aspectos: para algumas pessoas o trabalho representa o castigo divino, um fardo, é incômodo, esgotante para quem o realiza, é um lugar pesado, sem perspectiva, e por isso muitos até adoecem. Para outros o trabalho é um lugar de realização, espaço de criação, uma possibilidade de construir algo e marcar sua existência no mundo, nele conseguem crescimento pessoal e se realizam. São duas perspectivas distintas, uma negativa, a outra positiva.
Podemos identificar esse lado positivo quando um trabalhador acompanha e interfere em todas as etapas do processo produtivo, nesse momento ele possui uma grande identificação com o resultado do seu esforço, ele se sente responsável pelos resultados obtidos. Já o lado negativo pode ocorrer quando se divide o trabalho e o poder de decisão sobre o mesmo é retirado, cabendo ao indivíduo apenas obedecer procedimentos, realizando apenas parte das tarefas.
Uma grande alteração irá ocorrer com o surgimento da indústria. O cenário criado com a Revolução Industrial foi um marco diferenciador que contribuiu com grandes mudanças no contexto da atividade de trabalho. Para conseguir funcionar, a indústria alterou desde as formas como o trabalho se organizava, os métodos para a sua administração, os tipos e perfis de trabalhadores necessários, a forma como eram capacitados os profissionais, ou seja, revolucionou o mundo do trabalho.
A psicologia que estuda o trabalho
Com os processos de racionalização e controle das atividades que surgiram com o surgimento da indústria, houve uma intensificação das atividades para acompanhar o processo de mecanização adotado. Frederick Taylor (1856-1915) foi pioneiro na modificação de comportamento dos trabalhadores na indústria. Com a sua organização científica do trabalho se controlava as tarefas e eliminava do trabalhador o poder de decisão sobre o que ele executava. As propostas nessa época visavam atingir a eficiência na produção, mas separavam a concepção da execução. Sobre o pretexto de eliminar os movimentos inúteis da atividade, se intensificava cada vez mais o trabalho. Essas racionalizações da atividade, com tudo calculado, medido e preciso, definiam os tempos para executar cada tarefa e a forma como ela deveria acontecer.
Foi assim que a indústria vai modificar o conceito de trabalho e definir novos valores para a sociedade, criando assim o que se pode chamar de Sociedade Industrial. Como vimos, trabalhar faz parte da humanidade e sua função é muito maior do que apenas proporcionar a sobrevivência, significando muito na experiência humana, de autoconhecimento, de interação social, de construção da sobrevivência, constituinte da identidade do sujeito.
As contribuições da psicologia para a análise do trabalho buscam entender como essas mudanças no mundo profissional afetam as pessoas. É preciso fazer uma leitura dessas mudanças, dos métodos empregados e dos conceitos que dão conta de tudo. A articulação entre o sentido e o significado do trabalho, em termos de análise psicológica, irá permitir que o ser humano se aproprie desses sentidos e significados do trabalho. E a partir disso criar novas possibilidades.
Veja a sequencia em Psicologia do Trabalho e suas origens (6ª Parte)
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