Os acidentes no trabalho fazem parte da realidade no Brasil e apesar do esforço para a redução de números tão significativos, muito ainda temos que avançar. Sou especialista em psicologia do trabalho e técnico de segurança do trabalho aposentado, e tenho certeza que a união dessas duas áreas de conhecimento, cada uma com a sua ciência, pode contribuir ativamente dos esforços para reduzir os acidentes.

Ambas, a psicologia e a segurança do trabalho, podem somar esforços e contribuir para a construção das mudanças necessárias. Na minha experiência, trabalhando com os profissionais da segurança (SESMT, CIPA, SMS, etc.), percebo que a psicologia pode acrescentar com a sua perspectiva. Ela possui um vasto conhecimento sobre o ser humano, que pode auxiliar indo além da simples visão do comportamento. Também pode mostrar que além do momento excepcional do acidente é preciso buscar respostas no dia-a-dia da atividade.

Segundo o Professor Francisco Antunes Lima (2009), quando pensamos na melhoria das condições de trabalho ou na redução acidentes e doenças ocupacionais, os resultados práticos obtidos não correspondem à todo conhecimento que temos acumulado na área de segurança. E sabemos que apesar de todo esforço realizado no Brasil, em equipamentos, em programas, com as normas, com os procedimentos, apesar de tudo, o que constatamos é que os índices de acidentes e doenças ocupacionais ainda continuam extremamente elevados.

“A cultura de segurança não é algo que floresce pronta em uma organização, assim como uma experiência de alguém que viu a morte de perto; ao contrário, ela emerge gradualmente através da persistência e aplicação sucessiva de práticas terrenas. Não há nada de místico nisto”. (REASON, 2000).

Sempre nos perguntamos porque será que apesar de todos os esforços os acidentes continuam a acontecer e em números tão significativos? Porque o esforço em segurança do trabalho continua direcionando suas forças de maneira improdutiva? Será que precisamos de novos olhares nas análises dos acidentes e das condições de trabalho? Será que precisamos de contribuições mais efetivas para o aprendizado e mitigação dos mesmos? Será que precisamos pensar em longo prazo, para podermos pensar numa segurança intrínseca à atividade ?

Por isso a nossa busca pela melhoria na segurança e para alterar as realidades de trabalho deve ocorrer no cotidiano das atividades. É no dia a dia do trabalho que precisamos entender os mecanismos cognitivos que levam um executante a escolher uma opção na tarefa, compreender qual a dinâmica de sua atividade, para só então pensarmos em novas formas de gestão dessa atividade.

São nas situações normais de trabalho onde estão os alicerces do acidente, e também a maneira como podemos evitá-los. Somente o trabalhador, aquele que executa a atividade, será capaz de fornecer subsídios ou construir alternativas para alterar as condições de uma tarefa. É ele o agente principal na criação de uma nova concepção de segurança.

Por entendermos a importância da formação continuada para quem atua na área de saúde e segurança do trabalho (SST), que só através da melhoria contínua mudaremos a realidade dos acidentes de trabalho no Brasil, desenvolvemos esse BLOG, uma fonte de capacitação e de qualificação para quem tá na linha de frente no enfrentamento dos acidentes de trabalho.

A nossa pretensão é ajudar a orientar a segurança no Brasil, seremos mais uma gota nesse rio caudaloso, por isso queremos apresentar uma nova abordagem, que mantém no centro dos olhares a participação dos trabalhadores que executam a atividade. É ali que será construída a sua segurança.

FONTES:

  • Francisco de Paula Antunes Lima. Ações coordenadas em saúde do trabalhador: uma proposta de atuação supra-institucional. Revista Brasileira de Saúde Ocupacional, São Paulo, 34 (119): 67-78, 2009.
  • James Reason. Human error: models and management. Bmj 320.7237 (2000): 768-770.
  • Renato Silva dos Santos. Erro humano? Discutindo um acidente de trabalho numa indústria química. 2010. Monografia (Especialização em Psicologia do Trabalho). Belo Horizonte: Faculdade Filosofia e Ciências Humanas / Universidade Federal de Minas Gerais, 2010.